Rocky Horror Show é pulsante e hilário

Há diretores de musicais no Brasil que só montam o mesmo tipo de espetáculo. Uns só optam por clássicos, outros só sobem as cortinas com caça-níqueis popularescos. Charles Moeller & Cláudio Botelho fazem o oposto. Versáteis, corajosos e ousados, eles se arriscam desbravadamente. E nós espectadores somos brindados com desde musicais tradicionalistas e familiares (“A Noviça Rebelde”, “Um Violinista No Telhado”, “Gypsy”), criações originais (“Sete”, “Milton Nascimento – Nada Será Como Antes”) até os joviais (“O Despertar Da Primavera”). Algumas vezes, optam por montar textos revolucionários e avant-garde, como “Hair” e, agora, o divertidíssimo “Rocky Horror Show”, que insurgiu e bombardeou a Broadway e o West End londrino nos anos 70 ao abordar temas como transexualidade e questões de gênero.

A hilariante história do casal certinho que vai parar num castelo dark habitado por seres estranhos e tétricos e comandados por uma transexual libertária, sanguinária e de língua afiada, é contada com as tintas roqueiras e sujas necessárias  à montagem.

Os diretores são engenhosos ao criar a ambientação de terror kitsch, o humor ferino e ao versionar (trabalho fantástico de Claudio Botelho) as tão conhecidas canções deste musical que tem legiões de fãs pelo mundo. A dupla também extrai do elenco atuações pulsantes e bem desenhadas. Marcelo Médici parece ter nascido para encarnar Frank’ N’ Furter, a transexual desbocada e destemida, adepta a jogos morais e físicos. Uma atuação fulgurante, recheada de tiradas brilhantes e momentos cômicos que fazem a plateia rolar de rir.  Outros destaques no elenco (todo ele de alto nível) são:  Felipe De Carolis, que interpreta Brad Majors, o noivo corretinho. O carismático ator (que estreou no teatro musical em  “O Despertar Da Primavera) acerta ao interpretar as canções com uma dose exata de auto-ironia e de salpicar seu abilolado personagem com a comédia que lhe é exigida, usando tiques que remetem ao antológico Jerry Lewis e também a Matthew Broderick e suas atuações em musicais.  E o vibrante e talentoso Thiago Machado está perfeito como Riff Raff, amparado pela maquiagem e visagismo do sempre competente Beto Carramanhos. O sempre surpreendente Marcel Octávio pontua hilariantemente todo o espetáculo, narrando as peripécias dos persongens enlouquecidos em seus fulgores.  Nicola Lama ( é um ator tão extraordinário que consegue fazer-se notável mesmo em personagens menores, além da habilidade exemplar com a cadeira-de-rodas. O cantor pop Felipe Mafra faz seu début no teatro interpretando Rocky, uma espécie de robô humanóide de corpo trabalhado e de cérebro descompassado e descompensado.

“Rocky Horror Show” tem ritmo frenético, cenários bem escolhidos e figurinos excelentes. Mais uma vez, – dupla Moeller & Botelho acerta ao trazer de volta aos holofotes um produto que estava adormecido. Ressuscitaram, de forma hilária, um musical rebelde e subversivo, entoado por canções renovadoras e vanguardistas.

É, sem dúvida, um dos melhores musicais de 2016 e uma das comédias mais imperdíveis

 

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