Gabriela – Um Musical tem elenco fabuloso

O pernambucano João Falcão é um encenador de mãos firmes e voz potente. Festeja, merecidamente no currículo, montagens premiadas como a inesquecível “A Dona da História” (com Marieta Severo e Andréa Beltrão), “A Máquina”, que revelou Wagner Moura, Vladimir Brichta e Lázaro Ramos, “Clandestinos” e os mais recentes “Ensina-me A Viver” (com Glória Menezes e Arlindo Lopes) e “Gonzagão – A Lenda”. Desta vez, leva ao palco o mundialmente conhecido romance do baiano Jorge Amado. “GABRIELA – UM MUSICAL” é narrado com uma fluidez envolvente e um elenco tão fabuloso que parece um grupo ou coletivo teatral que trabalha há anos juntos. A coesão, a química e o entrosamento dos atores em cena realmente salta aos olhos. O desenrolar dramático  conta com providenciais esteiras rolantes (em diversas direções no palco) e conduz a história da apaixonante menina cravo-e-canela de forma encantadora. As esteiras, além de indicar passagem de tempo e transições de cenas, também permitem que o elenco demonstre ágeis habilidades interpretativas em momentos vibrantes. As coreografias e preparação corporal de Lu Brites (que também é atriz mas não está no elenco) são trabalhos de grande qualidade.

A direção musical de Tó Brandileone introduz canções bastante heterogêneas (mas muito simpáticas entre si) como “Vilarejo” (Marisa Monte) – aqui, um dos pontos altos do espetáculo, “Que  Me Venha Esse Homem” (composta por David Tygel e Bruna Lombardi), “Tão Bem” (Lulu Santos), “Garota Nacional” (Skank), “Rosa” (Pixinguinha), “Bicho de Sete Cabeças” (Geraldo Azevedo) e “Sem Fantasia” (Chico Buarque). Os arranjos são emocionantes, a cargo também de Guilherme Borges, um dos ótimos atores também em cena. Inteligentemente, não há cenários. Apenas a luz, em arroxeadas tonalidades (um trabalho incrível de Cesar de Ramires), conduz o brilhantismo dos atores e a magnitude da direção de João Falcão. Roger Ferrari e Simone Momo também acertam em cheio no visagismo.
A médica e cantora paraense Daniela Blois, no papel-título, é uma surpreendente revelação. Além da voz de imensas qualidades, ela personifica Gabriela de maneira admirável para uma iniciante. O paulista Danilo Dal Farra, como Nacib, faz um trabalho irrepreensível. Nasce um novo excelente ator (e galã) para o grande público. Vinícius Teixeira e Almério chamam atenção em seus diversos e divertidos personagens, especialmente quando encarnam as duas velhas fofoqueiras. O veterano Maurício Tizumba imprime ritmo, opinião e força no papel do narrador, numa atuação notável. Luciano Andrey (que dirigiu recentemente o belíssimo “Nuvem de Lágrimas”) está habilidoso como sempre, saltando do velho religioso ao coronel enraivado em poucos minutos. Léo Bahia (que chamou atenção em “Chacrinha”), Ingrid Gaigher (que brilhou em “Antes Tarde do Que Nunca”), Bruno Quixotte (que esteve no seriado “Malhação”), Bruce de Araújo, Tamirys O´Hanna e a ótima cantora potiguar Juliana Linhares estão contagiantes em seus multifacetados apoderamentos dramáticos.

“Gabriela – Um Musical” acerta ao salpicar dentro do livro de Jorge Amado uma mão cheia de condecoração (sou fã do palavreado sempre eficiente de Adriana Falcão)  e um sopro de novidade. Por vezes, me fez lembrar do grupo Piolim da Paraíba e sua inesquecível montagem de “A Vau da Sarapalha”. Algumas cenas remetem ao universo dos quadros de  Candido Portinari, como “Os Retirantes” e “O Lavrador de Café”.

É um espetáculo memorável. Merece muito ser prestigiado. Já está na minha lista dos melhores musicais do ano.

Teatro Cetip
Instituto Tomie Ohtake
De sexta a domingo

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