Ailton Krenak: Imortal na Palavra e na Origem

Montagem a partir da foto de Ailton Krenak pelo Garapa/Coletivo Multimídia e foto do Acervo Plinio Ayrosa /USP do povo Krenak

Ailton Krenak é duas vezes imortal: na palavra e na origem. Em sua primeira declaração como o novo imortal da Academia Brasileira de Letras, Ailton Krenak, líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta e escritor brasileiro da etnia indígena Krenaque, propôs algo notável. 

Ele convidou a Academia Brasileira de Letras a criar uma plataforma semelhante à Biblioteca Ailton Krenak, uma coleção de centenas de imagens, textos, filmes e documentos, acessível a todo mundo na web. A ideia é expandir essa iniciativa para abranger não apenas o português, mas também as mais de 170 línguas nativas que compõem o Brasil.

A eleição de Krenak é uma celebração da literatura e da cultura indígena, destacando a riqueza e diversidade das vozes originárias. Essa união entre a imortalidade por meio de obras literárias e a compreensão indígena de que a morte é apenas uma passagem para uma existência contínua reflete a profunda ligação que essas culturas têm com a natureza e a espiritualidade.

Para os povos indígenas do Brasil, a imortalidade está intrinsecamente relacionada à natureza e à continuidade da vida. Sua crença afirma que a morte não é o fim, mas uma transição para outra forma de existência. Os espíritos dos antepassados estão presentes na terra, nos rios, nas árvores e em toda a natureza que os rodeia. Essa conexão espiritual é uma manifestação viva da imortalidade na cosmovisão indígena.

Este momento coincide com uma profunda discussão sobre a importância da cultura indígena, que significa “originária, aquela que está ali antes dos outros”. Recentemente, vimos a escolha de Sonia Guajajara para o Ministério dos Povos Indígenas do Brasil, bem como a votação contra o Marco Temporal. Segundo o parecer do relator do STF, ministro Edson Fachin, “a Constituição reconhece que o direito dos povos indígenas sobre suas terras de ocupação tradicional é um direito originário, ou seja, anterior à própria formação do Estado”.

Isso não é um movimento isolado; representa um esforço global para reexaminar e desafiar narrativas históricas tradicionais, dando voz às perspectivas e experiências de grupos historicamente marginalizados, como os povos indígenas. É um movimento que busca descolonizar o pensamento, reconhecendo a diversidade cultural, respeitando as tradições indígenas e promovendo a justiça social e a igualdade em um contexto pós-colonial.

O Brasil é uma nação plural, e é na celebração dessa pluralidade que encontramos força e identidade. A valorização da cultura indígena é um passo significativo em direção a uma sociedade mais inclusiva e justa. Que esta valorização continue a crescer, trazendo luz às vozes indígenas e promovendo o entendimento de que a diversidade cultural é o maior legado a ser preservado, respeitado e compartilhado com as futuras gerações. A imortalidade das culturas indígenas vive na capacidade de reconhecê-las e honrá-las no presente, garantindo assim que perdurem no futuro.

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